“Que a Música Toque”
— Cadê a faca da carne? Ela nunca está onde eu procuro.
A carne cortada, apesar da faca cega, temperos... As velas vão realçar a decoração da mesa.
Hoje é a vez do grande jantar romântico.
Palavras medidas, olhares insinuantes... Tudo correrá bem. Assim espero.
Olho o relógio de parede: faltam três horas. Três infinitas horas. Serei o gourmet, o músico, o amante. Claro que a música será a do aparelho de som.
Ilude-se quem imaginar ser mero encontro amoroso: hoje é o nosso aniversário! Dois anos de felicidade.
Daqui a três horas sentirei seu perfume, aquela fragrância que me deixa doido. O cheiro da paixão, de um brutal desejo.
Na cama, a camisola amarela estendida nos lençóis de cetim.
Esta noite será especial.
Está no horário. Fiquei divagando e quase esqueci: se não tirar a minha esposa do freezer, lá no porão, não dará tempo de prepará-la.
Enquanto isso, que a música toque.
A noite será longa.
Este conto de Anderson Vicente foi publicado no livro Alvorada Fazendo Arte(Livro da Feira do Livro de 2005).
Por insistencia do C.E.A, a Feira do Livro(edição de 2005)publicou o primeiro"livro da feira" e com autores locais. Hoje, a cada nova edição a feira põe em prática essa idéia.
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