domingo, 25 de janeiro de 2009

VESTIDO DE NOIVA

Sábado, dezoito horas. Momento ideal para um casamento. O entardecer promete noite escura.
Ela sempre foi muito sonhadora. Seu maior desejo, desde menina, foi casar vestida de noiva. De branco, na Matriz, com flores de laranjeira e tudo. Tudo que teria direito; e faria por merecer.
Demorou um pouco - segundo ela - mas um dia encontrou seu príncipe encantado. Noivado, casamento, cerimônias; tudo marcado conforme manda o figurino.
Hoje, estamos aqui, amigos e parentes, vendo-a com seu vestido branco. O véu lhe envolvendo o corpo, fazendo-a parecer como se flutuasse entre alvas nuvens, e a grinalda coroando seu reinado de perseverança. Está como pretendia: maravilhosa.
Todos admitem: Está linda. Sempre foi bonita, mas nunca esteve tanto quanto parece hoje. Tinha que estar de branco, ela guardou sua inocência para o dia do casamento; queria fazer jus a esse vestido branco. E fez, até hoje conseguiu resistir aos anseios da juventude. Por isso merece usar o símbolo da pureza, que a deixa tão linda; mais do que sonhava ser.
O padre está resmungando aquelas palavras em latim, que ninguém presta atenção, enquanto todos os presentes, sem exceções, olham para ela.
O noivo, com o fraque preto do casamento, mal consegue segurar as lágrimas. A mãe dela não pode, nem tenta.
Muitos lembraram de sua paixão por flores. A capela está forrada com várias qualidades de buquês, a maioria, brancos, sua cor predileta.
Ela ficou realmente muito bonita, com seu vestido de noiva, todo branco. Será assim que lembrarão dela, depois que fecharem seu caixão.
O que ninguém saberá, é que hoje pela manhã, ela perdeu a cabeça - e algo mais - quando fomos naquele motel.

Ricardo Porto (escritor e sócio fundador do C.E.A.)

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