Que nem cusco na geada
Tô esperando minha hora
Olhando pra invernada
Queria tanto estar lá fora
Até o último momento
Mas o dono do firmamento
Me deixou viver demais
Agora, só no pensamento
Corro, cavalgo ao vento
Forças não tenho mais
Sou velho gaudério em paz
Com o tempo quase acabado
Mas já estou bem preparado
Pra ir morar com as almas
Não quero saber de tristeza
Na beira do meu caixão
Em vez de flores, quero palmas
No lugar da vela, um vanerão
Uma prenda cantando a beleza
Do nosso querido rincão
Pra quando chegar a hora
Do tal adeus derradeiro
Já guardei algum dinheiro
Pro meu corpo ser cremado
E na guaiaca o suficiente
Pra pagar algum vivente
Que jogue o pó nalgum costado
Virado pro sol nascente
Deste pago da gente
Que tanto tenho cantado.
(Ricardo Porto)
Um comentário:
Excelente!
Poético abraço de Gilbamar.
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