sábado, 6 de fevereiro de 2010

DÉJÀ VU

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Madrugada de um outono com pretensões de ser primavera.

Abriu cuidadosamente o portão e adentrou no pátio da casa da amada. Sorrateiro, bateu de leve na porta. Ouviu do interior da casa barulho de alguma coisa caindo, uma imprecação murmurada e o miado de um gato. Escutou o girar da chave na fechadura. Ela surgiu à porta, bela e sorridente. Ele deduziu que há pouco havia saído do banho, ainda vestia um roupão; vermelho, aquele que ele tanto gostava. Beijou-a e entrou em seu refúgio de amor.

Ali mesmo na sala, abraçou-a com sofreguidão. Acariciou-a sentindo que seus desejos eram correspondidos, como sempre. Ela replicava suas carícias com a mesma intensidade. Ergueu-a nos braços, carregou seu amor para o quarto. Deixou-a de pé sobre a cama, desamarrou-lhe o cinto do agasalho, deixando-o deslizar lentamente até os pés dela. Deu um passo atrás; por alguns instantes admirou aquele nu modelar. Ela sorriu languidamente, ele tirou as próprias roupas, tomado pela paixão.

Amaram-se unidos pelo mesmo desejo, na ânsia de completarem-se, realizarem-se, até se satisfazerem. Até que o furor carnal deu lugar à tão esperada sensação de paz, de conforto. Permaneceram longo tempo em silêncio, aninhados; um anelado aos braços do outro.

O tempo urgiu; hora da separação. Um banho a dois, carícias, promessas de novo encontro. Saudades antecipadas e previstas.

Ele estava pronto para sair, quando durante o derradeiro beijo de despedida, ouviram leves batidas na porta. Apressado, ele se dirigiu à porta dos fundos, tropeçou em uma cadeira, praguejou baixinho, afastou o bichano do caminho, que saiu miando de perto do apressado amante.

Sem olhar para trás, correu até o muro dos fundos, pulou-o e atravessou o terreno da casa vizinha. Chegou à rua e continuou a caminhada calmamente. Fez a volta no quarteirão. A madrugada se avizinhava, hora de voltar para casa.

Com tranquilidade, abriu o portão, chegou até a porta; procurou nos bolsos, não encontrou as chaves. Bateu de leve. Ouviu, lá dentro, ruído de alguma coisa caindo, alguém sussurrando um palavrão ao mesmo tempo em que escutou um miado.

Ela abriu a porta. Estava linda, devia ter saído há pouco do banho; vestia um roupão vermelho. Aquele que ele tanto gostava.

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(Ricardo Porto)

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