quinta-feira, 5 de maio de 2011

Eurico de Andrade - Nosso Parceiro de Tabuí.

Um cadim de mim.
Um menino que nasceu e começou a crescer lá no interior do interior pescando piabas, traíras e chorões no anzol e no puçá... Pegando juritis e saracuras na arapuca... Chupando ingá, gabiroba, peidorreira, baco-pari, araçá, mangaba e cagaita... Montando cavalo em pêlo... Bebendo leite direto dos peitos de vacas, éguas, cabras e ovelhas... Comendo pururuca, angu com couve e torresmo... Morrendo de medo de assombração, evitando mato para não virar comida de onça... Fazendo promessas pra São Sebastião, São Jorge e Santa Bárbara... Garrando com o chefe de tudo quanto é santo para não deixar nenhum insatisfeito... Acreditando no coisa ruim, em mal-olhado, em assombração e no saci pererê... Curando cobreiro e inflamação de aroeira com a Maria Geroma, à custa de muita Ave-Maria e fio frio da faca afiada... Educado sob a batuta do chicote e ameaças de castigo de Deus, nosso Senhor... Trabalhando como candieiro guiando carro de boi... Trabalhando como meeiro e tarefeiro no cabo da enxada... Ajudando vaca na hora do parto... Vendo a Joaninha apanhando do Zé da Ponte do Bode enquanto ele cobria de mimos e beijos a mocinha Julieta... Bebendo chá de mané turé, carqueja, fedegoso, chapéu de couro, congonha... Comendo beldroega, broto de aboboreira, miolo de gueroba, frango com pequi, angu com quiabo, quibebe, inhame com leite... Assistindo a boiada passar... Vendo o trem de ferro apontar na boca de um corte e sumir na outra carregando boi, muquiça e gente... Vendo a enchente destruir as roças de arroz e milho do pai... Arrancando mandioca no muque pra farinha e o polvilho do ano... Fazendo paçoca de carne seca e socando arroz e café no monjolo de pé... Indo pra escola a uma légua de distância no cavalinho da orelha murcha... Convivendo e conversando com João Pelota, Zé Rosa, João Garrote, João Geada, Zé Ficiano, Zé Pelotin ha, João Garrotinho, João do Zé Ficiano, Zeca do Zé Ficiano, Zé Albino, João Miguel, Zé do Orico, Zé Taviano, João Vergina, Zé Cota, Zé Ramo, João do João Vergina, Severo... Só podia dar no que deu, no meio de tantos zés e joães : um escrevedor de coisas da roça.

Eurico de Andrade - uma homenagem à cultura brasileira!

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