sábado, 28 de março de 2009

 “A arte de criar”

Mesmo estando enquadrado o ser humano como o ser capaz de pensar e criar, ainda assim a “arte da criação”, é a causa da famosa tremura nas pernas que antecede aquela sensação de “frio na barriga” — o medo sutil e ativo.

Se em outras gerações, na volta de uma clareira a céu aberto iam-se desvendando mistérios em lendas e “causos”, ou mesmo, à luz de uma pequena lamparina a querosene: o ambiente mágico, demonstrado no rosto cheio de expressões e gestos, narrava do corriqueiro a histórias fascinantes, onde na certa, o moleque que as escutava traçava forma ao cenário e as personagens. E, como em um “estalar de dedos”, o campo aberto, limpo, pronto para nele semear a sua criatividade, onde em zelosos cuidados: o hábito contido de leitura — de mero passatempo ao então prazer — adensava ao “seu mundo”, movimentos vivos, penetrantes. Hoje, já não se pode da mesma maneira ativar a criatividade: base para a construção do bom conto, novela ou romance.

Deve-se, em primeiro lugar, estabelecer o “convívio” com as palavras; não adorná-las de requinte e sim entendê-las. Parece, ao deixar assim definido, quão vago este método, pouco adiantará. Entretanto, pouco - a- pouco o hábito se faz; não o deixa, o enlaça, envolvendo no seu íntimo e a esta hora começará a correr nas veias e artérias.

O início de sua trajetória está começada, no entanto, longe de desembarcar: agora começa a afeição — a arte de criar.

 Anderson Vicente - texto publicado na coletânea "Alvorecendo" Inverno de 2002

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